quarta-feira, 8 de maio de 2013

A História de superação

Juliana Vieira Grozza é uma garota de 22 anos que sofreu grave acidente de carro, ficou tetraplégica, ou seja, perdeu os movimentos do pescoço para baixo e tinha sólidos ingredientes para desistir de tudo, trancar-se em seu novo mundo e esquecer todos os sonhos. Mas ela decidiu que não ia se render aos “nãos” impostos, dia após dia, em razão de sua condição física.
Após superar o susto e entender o que aconteceu, já que teve três vértebras e a medula atingidas, começou a se reconstruir e readaptar-se. Investiu nas sessões de fisioterapia e hidroterapia, o que se conhece como tratamento convencional, e iniciou campanha, batizada como Anda Juliana, para arrecadar R$ 70 mil e buscar atendimento adicional no Panamá, na América Central.
Com esse propósito, está disposta a percorrer 22 mil quilômetros (ida e volta) para ser submetida a um tratamento com células-tronco. Elas serão retiradas da bacia e reintroduzidas na medula. Acredita que isso vai agilizar a recuperação. Quer uma segunda chance. “A gente pensa que nunca vai acontecer. Ainda acredito que vou voltar a andar.” São poucas as lembranças da fatídica noite de 28 de abril de 2011.
Recorda-se apenas que assistiu a aula de psicologia, em uma faculdade de Fernandópolis, e voltou para casa, em Pedranópolis. Estava feliz, com o som ligado em música sertaneja. No meio do caminho, de menos de 15 quilômetros, perdeu o controle do veículo e bateu violentamente em um barranco. Tudo mudaria a partir dali.
Permaneceu dois meses internada no Hospital de Base de Rio Preto. Só na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foram nove dias. Ao reunir o mínimo de condição médica, foi levada para casa, ou melhor, para a cama. Descobriu sozinha que seu corpo não respondia aos estímulos. Iniciou assim longas sessões de fisioterapia na Rede Lucy Montoro e uma busca alucinada por recuperação.
Foi se tratar no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, e em Salvador. Os resultados do tratamento já são aparentes. Recuperou parte dos movimentos nos braços e pescoço. Mas ainda falta muito para obter a independência e ter vida mais próxima a que tinha. Sua bexiga, por exemplo, não funciona. A urina é retirada cinco vezes por dia com ajuda de uma sonda. Quer principalmente fortalecer a musculatura.
“As coisas aconteceram muito rápido. Eu tinha duas opções: desistir ou procurar melhoria. Aos poucos, estou recuperando a minha vida. Voltei neste ano para a faculdade e de vez em quando saio para me divertir. Tenho certeza de que vou sair dessa”, afirma a jovem, que não economiza sorrisos, não se faz de vítima e tem no computador o meio para interagir, como diz, com o mundo.
Juliana demonstra força que surpreendeu até mesmo as pessoas mais próximas. Conta com um pequeno, mas incansável, exército sempre disposto à ajudá-la. Depois do acidente, a família ficou mais unida. Só restaram os amigos de verdade. “Nossa amizade ficou mais forte. Eu não faço muito drama. Sempre imagino que é uma fase,” afirma seu irmão Heitor, 17 anos, que se tornou um fiel escudeiro no dia a dia. Vinícius, o outro irmão, de 12 anos, também ajuda.
Silvia Adriana Grozza, 43 anos, desdobra-se para cuidar dos três filhos, principalmente Juliana, trabalhar como escrivã na Polícia Civil e administrar a casa. “Tive que mostrar muito mais como mãe. Tenho esperança de que ela vai melhorar. É o meu desejo. Minha filha não desanima. Às vezes, fico triste, preocupada.” Até agora, a família conseguiu apenas R$ 10 mil. Vai promover um jantar, em 15 de julho, e bingo de dois bezerros.
Quando não está no hospital ou na faculdade, Juliana fica em casa. Sair é difícil, em razão da falta de acessibilidade. Nem liga para o preconceito. Navega na internet, lê bastante, escuta música e às vezes canta. Também mantém a página www.facebook.com/AndaJuliana, para dividir com internautas um pouco do seu dia a dia, além de postar fotos e fazer campanhas para seu tratamento. Nunca a frase tatuada no braço esquerdo fez tanto sentido: carpem diem (em latim, ‘aproveite o momento’). “É assim que vivo, com Deus em primeiro lugar.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário